Memorial de Ayres

Memorial de Ayres

Nesse momento, a viuva descruzava as mãos, e fazia gesto de ir embora. Primeiramente espraiou os olhos, como a ver se estava só. Talvez quizesse beijar a sepultura, o proprio nome do marido, mas havia gente perto, sem contar dous coveiros que levavam um regador e uma enxada, e iam falando de um enterro daquella manhã. Falavam alto, e um escarnecia do outro, em voz grossa: «Eras capaz de levar um daquelles ao morro? Só se fossem quatro como tu.» Tratavam de caixão pezado, naturalmente, mas eu voltei depressa a atenção para a viuva, que se afastava e caminhava lentamente, sem mais olhar para traz. Encoberto por um mausoleu, não a pude ver mais nem melhor que a principio. Ella foi descendo até o portão, onde passava um bonde em que entrou e partiu. Nós descemos depois e viemos no outro.

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